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quinta-feira, janeiro 17, 2002

Trabalhar 

Tenho um problema que vos gostava de colocar. Talvez algum de vós me possa ajudar.

É que me parece que estou a enriquecer demasiado depressa - eu explico:

Quando se trabalha até horas que já nem aos copos são reservadas, fica-se com um problema de não ter tempo para gastar.

Assim, pretendo informar os sócios da minha empresa, que não precisam de se incomodar em pagar-me salários, prémios ou promoções, porque não tenho tempo para ver o saldo.

Porque como toda a gente sabe, quando se está na idade em que menos de 400 mulheres é pouco, o objectivo de qualquer ser humano racional é um trabalho que garanta uma subsistência confortável e nada mais, enquanto se aguarda pacientemente o primeiro prémio do totoloto.

Ora eu, fico absolutamente fascinado com a sensação que as pessoas que aqui trabalham têm, de que trabalhar até de madrugada é NORMAL em determinadas partes de um projecto – qualquer coisa como um privilégio de uma elite consagrada. Como que encerram orgulho em pertencer a uma classe sofredora. A mim, parece-me tão patético como uma vítima humana a caminhar voluntária e sorridente para um altar de imolação.

E o que é fantástico, é imaginar como conseguem pessoas que só sóbrias dizem que gostam do que fazem, arranjar motivação para serem tão emocionalmente violadas! Como consegue uma lavagem cerebral em massa ser de tal forma bem sucedida e convincente, que leva pessoas que a sociedade actual consideraria inteligentes a escravizarem-se de sobremaneira, por dinheiro que não tem tempo para gastar!

E mais extraordinário ainda, é fazerem pessoas tomar escolhas do género carreira ou casamento, que provocam inevitavelmente distúrbios mentais acelerados pela falta de realização profissional ou por carências afectivas de tal forma acentuadas que levam a esgotamentos.

É que eu, que ao fim de cinco empregos arranjei um em que consigo manter a sanidade mental, por proporcionar desafios mentais superiores aos exigidos a um gorila, sinto-me agora tão implacavelmente cansado, que até uma ténue lembrança de cama me comove.

Assim decidi auto-considerar-me definitivamente como um Inadaptado Social e ir estudar psicossociologia para o Tibete a tentar perceber a felicidade dos macacos.

Adiante.

À duas semanas atrás estive na Holanda, em formação.

Fui para Amesterdão no dia dos meus anos e decidi unilateralmente, que uma boa forma de festejar era NÃO fumar um charro.

E assim fiz. Trouxe-os a todos intactos.

Agora, ofereço-os a quem me quiser arranjar um emprego. Das nove às cinco.

O escravo


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