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quarta-feira, dezembro 17, 2003

The Secret Blue Rose Again 

Nada me parece correr muito bem ultimamente.

A empresa onde trabalho pretende despedir um quinto das pessoas. Do topo até cá baixo é necessário seleccionar seres humanos, para saírem. Pelo que ando com uma permanente sensação de que vou precisar de procurar trabalho em breve. Adicionalmente, a senhoria aumentou-me a renda e convidou-me a sair, o meu carro avariou e estou com herpes activo. Ando constantemente pressionado para tratar de processos burocráticos de extrema morosidade e aborrecimento, a bolsa está nas lonas e eu estou falido. Sim, porque as únicas pessoas que me escrevem são os bancos a sugerir a rápida reposição do saldo negativo em depósitos à ordem e a polícia que amavelmente me aconselha a pagar multas em atraso.

Quando se vive sem estaca e o pilar que tens lá em cima ameaça ruir ou te adverte de que tudo o deste como certo pode muito bem não ser assim – sentes-te cair num buraco negro. Porque são pessoas que em geral não viveram intensamente e são facilmente capazes de por em causa sentimentos fortes por insegurança – falta de calo.

Ainda assim, acho que estou bem disposto. Vá-se lá saber porquê.

Talvez resulte de um modo de vida extremamente superficial. De frequentar avidamente salas de musculação, oficinas de vaidade, de um vazio extremo.

De namorar miúdas que confundem paixão com tesão. Em geral filhas de pessoas com ar de boa gente que não merecem obviamente as filhas que tem.

Mas avança-se – em um salto para a frente – com a mesma rotina: trabalho, Copos, ginásio, Miúda. Às vezes, uns passeios mais ou menos radicais ao fim de semana – para espairecer.

Porque às vezes vivemos submersos em micro-realidades com características muito próprias, sem nos apercebermos de que há um mundo lá fora. A explorar.

Porque é tão fácil convencermo-nos de tanta coisa e viver no confortozinho que representa estar com alguém ou sentirmo-nos amados, ainda que não seja lá muito recíproco...

Mas alguém nos diz, ou lembra, que a vida dá muitas voltas, e que pode não ser sempre assim. Mas também que não é suposto ter saudades de alguém que não gostavas de levar contigo para uma cabana deserta na Austrália.

E que por muito confortável que seja ter ginásio às segundas, quartas e sextas e namorada às terças e quintas e sábados (ao sétimo dia até Deus descansou!), não é suposto andares com alguém porque te doem os músculos e não te apetece sair, ou porque nos dias de ressaca não suspiras por beber e te sabe bem um abraço.

Uma forma de vivência confortável – agradavelzinha – que só sabe a masturbação.

Porque em geral as pessoas formam ilhas – construídas por realidades mais ou menos aprazíveis – conjuntos de amigos e pseudo-amigos, namoradas e actividades distractivas que formam um oásis na selva, e tornam um bocadinho melhor – mais suportável – esta merda que é subsistir.

O budismo diz que a vida é a eterna sucessão de doença, velhice e morte. É uma sucessão seguramente entrecortada por espasmódicos refluxos de satisfação, ainda que artificialmente criados ou inconscientemente vividos. Mas TÃO vazia!

Porque a vida são umas férias que a morte vos concede.
Aproveitem bem as vossas Férias.

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