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terça-feira, janeiro 13, 2004

Como ser deportado para a província 

Não sei porque levei tanto tempo a voltar a escrever neste blog. Bem, até sei...

Sei que atravesso um bloqueio de escritor daqueles que tornam as pessoas pouco produtivas, criativamente falando...

Tenho andado com dilemas de consciência inadiáveis, a habitual depressão do terço de idade, suponho. Afinal, se há uma depressão da meia-idade, porque não há-de haver a do terço de idade?

Fartei-me de pensar e decidi-me enfim a trocar uma carreira bem-sucedida, de jovem executivo de sucesso, por nada. Despedi-me.

Decidi assim, voltar para a terra onde cresci. Cansado de receber ordens, optei por mandar em mim próprio. E, francamente, não me apetece passar 44 anos num escritório e passar directamente do escritório para um asilo onde o meu maior sonho vai ser chegar à casa de banho a tempo.

Resolvi-me a arregaçar as mangas e a optar por ajudar nas bem-avançadas obras da quinta em vez de continuar a investir numa carreira...

Considero, no entanto, a hipótese de viver mais uns 3 meses por cá. Vou assim viver por mais uns tempos descongelado, neste clima ligeiramente mais temperado do Sul do país, até ao fim do Inverno. Além de que desta forma, a adaptação à mudança de vida é mais gradual, não vou passar pelo choque de mudar radicalmente de vida de um dia para o outro e de passar assim de um estado de liberdade total como tenho aqui em Lisboa, para uma situação de viver com os pais, ver a minha vida comentada pelos vizinhos e essas coisas a que até acho muita piada porque nasci com uma espécie muito peculiar de loucura que me faz adorar chocar gente demasiado conservadora.

No entanto, trocar a cidade mais desenvolvida do país por uma das mais pobres parece suicídio a toda a gente.

E, coisa incrível, pela primeira vez na vida, tomo uma decisão com que absolutamente ninguém concorda. O que me chateia não é remar contra a maré, mas apenas que nem sequer aqueles amigos mais malucos que qualquer gajo tem, por norma aqueles que já experimentaram vários tipos de droga e que tem um espírito tão aberto que me preocupa seriamente que os cérebros deles caiam, nem sequer esses me apoiem: discordam por completo da decisão tomada.

O meu problema é que porque as obras lá na quinta avançam a bom ritmo, e se não for lá de vez em quando alguém tomar conta e trabalhar com os pedreiros, vão com certeza deitar-se debaixo das árvores a jogar às cartas. Além disso não me parece fazer qualquer sentido dedicar-me à empresa para a qual (ainda) trabalho e deixar o meu próprio negócio por mãos alheias. Bolas, alguns gajos enriqueceram bastante por conta própria, porque não hei-de eu também?

Claro que vou ter saudades de algumas coisas... 12 anos numa cidade qualquer marcam sempre uma pessoa. Vou sentir a falta dos cafés à beira-rio, dos amigos que deixo por cá, de uma vida mentalmente mais activa e de um nível cultural eventualmente mais elevado.

Apesar das aparências, está tudo na mesma. Continuo a beber mais do que devia e provavelmente a desperdiçar a juventude em cafés enegrecidos, ou com raparigas que não dizem mais de sete palavras seguidas, mas não se pode querer ter tudo de uma vez, suponho.

Mas quando estiverem prontas essas obras, lá estarei a morar na minha querida aldeia à beira mar, que nem um príncipe, e a bem receber essas turistas norueguesas, suecas e dinamarquesas.

Aliás prometi-me já que como prémio pelo trabalho bem esforçado a que a troca da vida de web-developer pela vida de trolha vai obrigar, a primeira acção publicitária que a minha casa de turismo rural terá, será em forma de banner na edição electrónica da PlayGirl de um país escandinavo qualquer. Não duvido da ânsia que as meninas ricas desses países detêm por um macho latino, a que facilmente corresponderei.

Claro que se nada disto funcionar, vou fazer concorrência a Bragança e abrir um bordel como deve ser. Como a minha experiência por essas bandas se resume a uma, acho que vou ter de passar os próximos tempos em aprendizagem muito intensiva.

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